
Quando falamos sobre transtorno bipolar, muitos estereótipos do senso comum vêm à mente. Costuma-se imaginar uma pessoa indecisa, que em um momento está triste e, no outro, eufórica; alguém em quem não se pode confiar, que vive mudando de planos. No entanto, essas imagens são apenas preconceitos que dificultam o acesso dessas pessoas à ajuda e ao tratamento adequado. Por isso, decidi escrever sobre esse transtorno, a fim de esclarecer dúvidas e contribuir para uma compreensão mais empática e informada.
O que é o Transtorno Bipolar?
O Transtorno Bipolar é caracterizado por alterações significativas de humor, com episódios que variam entre mania ou hipomania — estados de euforia, aumento de energia e comportamento expansivo — e episódios de depressão. O início geralmente ocorre na adolescência ou no início da vida adulta, sendo rara a ocorrência em crianças.
De acordo com o DSM-5, existem diferentes apresentações do transtorno bipolar, entre elas: Transtorno Bipolar Tipo I, Transtorno Bipolar Tipo II, Transtorno Ciclotímico, Transtorno Bipolar Induzido por Substância/Medicamento e Transtorno Bipolar Devido a Outra Condição Médica. Portanto, há múltiplas formas de manifestação do transtorno, o que torna inadequado generalizar os casos ou adotar abordagens terapêuticas iguais para todos os pacientes.
Sintomas
Os sintomas do transtorno bipolar incluem episódios de mania, hipomania e depressão, variando conforme o subtipo do transtorno, que será detalhado posteriormente.
Contrariando a percepção comum, esses episódios não ocorrem de forma abrupta no mesmo dia. Os episódios depressivos, maníacos ou hipomaníacos tendem a se estender por semanas, podendo, em alguns casos, durar meses. No caso da ciclotimia, o diagnóstico pode ser mais desafiador, pois os sintomas são mais leves e os períodos de remissão são mais longos.
Mania
Em um episódio de mania o humor da pessoa se encontra mais expansivo e elevado, anormal, bastante irritável, na maior parte do dia, segundo o DSM precisa ter a duração mínima de uma semana.
Durante este período a energia está muito elevada, como se a pessoa estivesse no topo do mundo, querendo fazer tudo, o DSM, traz sete sintomas, onde três ou mais deles estão presentes no comportamento da pessoa com mania que são:
- Autoestima inflada ou grandiosidade.
- Redução da necessidade de sono (por ex., sente-se descansado com apenas três horas de sono).
- Fala mais do que o habitual ou pressão para continuar falando.
- Fuga de ideias, esquece palavras, assuntos, ou sente de que os pensamentos estão acelerados.
- Se distrai com muita facilidade com estímulos externos insignificantes ou irrelevantes, como por exemplo um pássaro, um som fora da sala, conforme relatado ou observado.
- Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora (atividade sem propósito não dirigida a objetivos). – conhecida no senso comum como hiperatividade, a pessoa não para quieta, está sempre fazendo algo.
- Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (por ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos, uso de substâncias).
É importante ressaltar de que estes sintomas precisam ser significativos o suficiente para causar sofrimento ao paciente e causar prejuízo para a vida particular, social e laboral desta pessoa, muitas vezes levando até a hospitalização, não sendo causados por medicação ou substância.
Hipomania
Na hipomania, o humor apresenta-se expansivo, anormal e/ou irritável, com duração mínima de quatro dias consecutivos, estando presente na maior parte do dia, quase todos os dias. Os sintomas são semelhantes aos descritos para a mania e, para caracterizar um episódio hipomaníaco, é necessário que estejam presentes pelo menos três (ou mais) desses sintomas, resultando em uma mudança clara no comportamento habitual do paciente. Essa alteração deve ser observável por outras pessoas, mas não é suficientemente grave para causar hospitalização ou prejuízo acentuado no funcionamento social ou ocupacional.
Episódio Depressivo
Para caracterizar um episódio depressivo dentro do transtorno bipolar o paciente precisa apresentar sintomas de humor deprimido e perca de prazer ou interesse durante duas semanas.
Outros sintomas observáveis são o ganho ou perda significativo de peso sem estar fazendo dieta, insônia ou hipersonia, agitação ou um retardo psicomotor, ou seja a pessoa se movimenta de uma forma muito lenta, fadiga ou perda de energia quase todos os dias, falta de concentração, indecisão, sentimento de culpa, inutilidade, pensamentos recorrentes de morte e ideação suicida, lembrando de que estes são alguns dos sintomas. Para caracterizar um episódio depressivo é necessário apresentar cinco ou mais destes sintomas, causarem sofrimento significativo na vida pessoal e profissional do paciente.
Transtorno Bipolar tipo I
O Transtorno Bipolar Tipo I é caracterizado por pelo menos um episódio maníaco persistente, com duração mínima de sete dias, presente na maior parte do dia, quase todos os dias. Durante a fase maníaca, é comum a presença de autoestima inflada, levando a crenças de possuir habilidades extraordinárias ou talentos incomuns, podendo manifestar comportamentos arrogantes ou a crença em relacionamentos especiais ou irreais. Em geral, o episódio depressivo tende a ser menos frequente ou menos prolongado que o episódio maníaco.
Indivíduos com TB Tipo I costumam apresentar mudanças bruscas de humor e, muitas vezes, não reconhecem que estão vivenciando alterações comportamentais, o que contribui para a demora na busca por tratamento. A irritabilidade é comum, tanto pela falta de insight em relação ao comportamento alterado quanto pela transição de um humor considerado “normal” para um humor irritadiço e até hostil.
Transtorno Bipolar tipo II
O Transtorno Bipolar Tipo II caracteriza-se pela ocorrência de um ou mais episódios depressivos maiores, acompanhados de pelo menos um episódio hipomaníaco. Para atender aos critérios diagnósticos, o episódio depressivo maior deve ter duração mínima de duas semanas, enquanto o episódio hipomaníaco deve persistir por, no mínimo, quatro dias. Durante esses episódios, os sintomas devem estar presentes na maior parte do dia, quase todos os dias, e representar uma mudança significativa em relação ao comportamento e funcionamento habituais do indivíduo.
Indivíduos com Transtorno Bipolar Tipo II frequentemente apresentam características como impulsividade e criatividade, que podem se manifestar de forma notável durante os episódios de humor alterado.
Transtorno Ciclotímico
O Transtorno Ciclotímico é considerado um dos mais desafiadores para diagnóstico, pois consiste em uma forma mais leve do transtorno bipolar. Os sintomas apresentam-se de maneira menos intensa, porém com duração prolongada, o que dificulta sua percepção tanto por parte dos profissionais quanto da própria pessoa e de seus familiares. Os sintomas para diagnóstico são:
1. Por pelo menos dois anos (um ano em crianças e adolescentes), presença de vários períodos com sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios para episódio hipomaníaco e vários períodos com sintomas depressivos que não satisfazem os critérios para episódio depressivo maior.
2. Durante o período antes citado de dois anos (um ano em crianças e adolescentes), os períodos hipomaníaco e depressivo estiveram presentes por pelo menos metade do tempo, e o indivíduo não permaneceu sem os sintomas por mais que dois meses consecutivos.
3. Os critérios para um episódio depressivo maior, maníaco ou hipomaníaco nunca foram satisfeitos.
4. Os sintomas do Critério A não são mais bem explicados por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno espectro da esquizofrenia e outro transtorno fisiológico não especificado.
5. Os sintomas não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex.,hipertireoidismo).
6. Os sintomas causam sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Para que seja caracterizado como ciclotimia, é necessário que a condição seja crônica, com oscilações persistentes de humor, envolvendo múltiplos períodos com sintomas hipomaníacos e períodos com sintomas depressivos, distintos entre si. Esses sintomas não atendem aos critérios para episódios completos de hipomania ou depressão maior, mas devem estar presentes durante a maior parte do tempo, por pelo menos dois anos (ou um ano em crianças e adolescentes), sem períodos livres de sintomas superiores a dois meses consecutivos.
Transtorno Bipolar e Transtorno Relacionado
Induzido por Substância/Medicamento
As características desse transtorno são semelhantes às observadas nos episódios de mania, hipomania e depressão maior, porém sua manifestação ocorre após o uso de determinada substância ou medicamento, sendo esta capaz de induzir tais sintomas.
Uma exceção importante ao diagnóstico de “Transtorno Bipolar e Transtorno Relacionado Induzido por Substância/Medicamento” refere-se aos casos em que episódios de hipomania ou mania surgem após o uso de antidepressivos ou outros tratamentos, mas persistem além dos efeitos fisiológicos esperados do fármaco. Nesses casos, considera-se a presença de um transtorno bipolar primário, e não um transtorno induzido por substância ou medicamento.
Causas
As causas do transtorno bipolar ainda não são totalmente compreendidas, mas sabe-se que há uma forte predisposição genética associada ao seu desenvolvimento. Trata-se de uma condição poligênica, ou seja, vários genes contribuem para o risco de ocorrência. No entanto, a presença dessa predisposição não é suficiente para a manifestação do transtorno; são necessários fatores adicionais, como alterações fisiológicas e ambientais. Entre os desencadeadores possíveis, destacam-se a exposição a determinadas medicações ou drogas, estresse prolongado, período puerperal, entre outras situações.
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