O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH, como tem sido mais falado ultimamente, tem ganho espaço nas mídias ao lado de outras neurodivergências, como o autismo, isso é um fato positivo pois estamos trazendo à luz um assunto que muitos não conheciam ou escolhiam deixar de lado, tornando a vida de pessoas neurodivergentes e familiares muito difícil.
O TDAH como conhecemos é algo muito novo, para termos uma ideia, apenas em 1968 ele foi trazido ao DSMII como uma reação hipercinética, ou seja, para descrever a hiperatividade, um dos sintomas que atingem as pessoas que possuem o transtorno, e só foi aparecer de forma completa, com todos os sintomas, em 1980! Por este motivo muitos acreditam que o transtorno ainda se trata apenas da hiperatividade, ou de que é necessário trazer prejuízos cognitivos, isso inclui profissionais que deveriam ter conhecimento necessário para pode auxiliar indivíduos que apresentem sinais, tanto de TDAH ou de alguma outra neurodivergência.
Por este motivo eu penso que toda discussão a respeito do tema é muito bem vinda, isso gera conhecimento, que por sua vez faz com que mais pessoas tenham acesso ao tratamento e que existam mais políticas públicas voltadas para essa parte da população.
Bem, eu sou Psicóloga a quatro anos e meio, tive o diagnóstico de TDAH à cerca de seis meses e quando o tive, tudo começou a fazer sentido, por exemplo: do porque era tão difícil para mim fazer as aulas de educação física, de eu sempre esquecer a cartolina para fazer o trabalho de geografia, de ter dificuldade em fazer amizades e de ficar extremamente estressada quando a professora trocava a data da prova que eu tinha estudado e estava preparada, ou mesmo que eu não estivesse, ela tinha quebrado a minha expectativa! Os sinais estavam todos ali! Acreditem, tem muitos outros sinais, mas ficaria uma eternidade escrevendo aqui!
O que eu quis dizer no parágrafo anterior e nos outros, é de que o diagnóstico de adultos com TDAH tem sido cada vez mais comum, muitos dos que me procuram chegam com muita angústia, muitas vezes depois de ter tido crises de ansiedade, de ter muitos problemas no trabalho, no relacionamento, até mesmo depois de ter procurado muito e nunca ter encontrado algo que os ajudassem, até entender que na verdade sempre foram neurodivergentes, aceitar isso e aprender a conviver e melhorar sua qualidade de vida.
Saiba que se você está desconfiando de que talvez possa ter o trastorno está tudo bem, vou te ajudar a entender melhor do que o TDAH se trata e de como você pode obter ajuda capacitada.
Mas afinal, o que é o TDAH?
O Transtorno de Déficit de Atenção de Hiperatividade segundo ao DSM 5 se trata de um transtorno no neurodesenvolvimento que é definido por níveis de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade – impulsividade.
Quando falamos a respeito de desatenção e desorganização é comum que exista uma dificuldade em permanecer em uma tarefa, em começar e terminar essa mesma tarefa, seguir instruções e manuais, conseguir notar pequenos detalhes, reluta se envolver ou fazer atividades que não gosta, muitas vezes parece não estar ouvindo quando o chamam, costuma perder objetos e se esquecer de coisas cotidianas.
Já em questão de hiperatividade e impulsividade implicam ficar batucando os dedos, mexendo as mãos, ficar se mexendo na cadeira, ou até mesmo não conseguir ficar sentado, corre ou sobe em lugares em situações em que se espera que permaneça sentado (esta é uma situação mais comum em crianças), o famoso “não parar quieto”, fala demais e muitas vezes acaba soltando a resposta de uma pergunta mesmo quando a pessoa nem terminou de perguntar, há intromissão nas atividades dos outros, dificuldade para aguardar.
Para o diagnóstico acontecer não há necessidade de se ter todos os sintomas, mas pelo menos 6 de cada aspecto, mesmo que muitos pensem que só existem dois tipos, o tipo desatento e o tipo hiperativo, o DSM traz 3 subtipos para o TDAH:
De apresentação combinada em que existem sintomas de desatenção e hiperatividade de forma parecida.
De apresentação desatenta, em que existem mais sintomas de desatenção do que de hiperatividade.
De apresentação hiperativa em que existem mais sintomas de hiperatividade.
Um ponto importante aqui é de que o TDAH em adultos se apresenta de forma diferente do que em crianças, pois as crianças externalizam mais o que sentem, dependendo do que existe como comorbidade, o que posso falar mais a frente. A criança ainda não sabe de todas as regras e de como deve se portar em cada lugar, o adulto com TDAH sofreu muito até entender que precisa ficar sentado em seu local de trabalho, mesmo que fique tremendo os pés o tempo todo e achando uma desculpa para ir pegar um café, ou fazer uma cópia no xerox, ou qualquer outra desculpa para sair da cadeira.
Já que agora conhece os sintomas do TDAH e entende a diferença entre a manifestação do transtorno em crianças e em adultos, talvez você possa começar a entender o motivo de estarmos tendo uma crescente de diagnósticos em adultos nos últimos anos.
O que venho notando com frequência e acredito que foi o que aconteceu comigo é de que eu aprendi a mascarar muitos sintomas, como o meu subtipo é desatento não sofri tanto com a hiperatividade, não que ela não existisse em meus pensamentos, mas eu nunca tive dificuldades em tirar boas notas a pesar de sempre estar perdida em datas e esquecer materiais, o que ajudou a nunca levantar dúvidas de meus professores. Sempre preferi ler livros do que passar tempo com meus colegas de sala, ou do que flertar com pessoas da minha idade, o que meus pais e meus professores também achavam muito bom.
Neste sentido eu volto a salientar de que ser neurodivergente não tem uma ligação direta com deficit cognitivo, conheço muitas pessoas com o diagnóstico que são extremamente inteligentes e nunca tiraram más notas, porém encontram problemas em outras áreas de sua vida, como por exemplo na socialização e entre outros aspectos.
Sempre me considerei uma pessoa introvertida, um pouco estranha, mas afinal, todo mundo tem seu lado estranho, pelo menos era o que eu achava, até encontrar meu marido, que tinha o diagnóstico de TDAH do tipo de apresentação combinada, e toda vez que ele me dizia que eu tinha algo de diferente eu ria muito, pois afinal de contas eu era psicóloga e se houvessem sinais eu saberia, mas a verdade é de que nem sempre a gente consegue se observar tão bem assim.
Quando comecei a investigar fiz perguntas aos meus pais e eles diziam “você sempre foi assim, sempre estava no mundo da lua”, eu achava engraçado, pois o critério pra diagnóstico é este, precisa existir desde sempre, mas a palavra TDAH só começou a existir depois de algum tempo pra mim, e acredito que pra você também.
Muita gente tem dificuldade de lidar com lugares cheios, barulhentos, mudanças de planos, gostos e texturas, mas estamos acostumados com a tabela de chato ou ranzinzas, pelo menos eu estava, agora eu sei que não sou nada disso, é só o meu cérebro que funciona de forma diferente, você sabia? Não sabia?! Pois vou te explicar!
O Cérebro TDAH
Mas primeiro de tudo, precisamos entender qual é a causa deste transtorno, se é genética, desenvolvida através de traumas ou causas ainda desconhecidas…
As causas para o transtorno são um conjunto de coisas, tanto de genética, como também de aspectos ambientais, há estudos que demonstram que quando há alguém diagnosticado com TDAH na família a chance de outras pessoas da família serem diagnosticados também aumenta em cinco vezes, mesmo sabendo disso, ainda não sabemos qual é o gene responsável por isso.
Outro aspecto que já sabemos a respeito do TDAH é de existe um déficit funcional do lobo frontal, o que explica a dificuldade em lidar com determinadas situações de forma tranquila, também justifica a dificuldade em controlar certas emoções. Também existe um deficit funcional de alguns neurotransmissores, deficit no comportamento inibitório, o que explica muito a impulsividade e a dificuldade de atenção em determinados momentos.
Há estudos que demonstram uma disfunção da neurotransmissão dopaminérgica em algumas partes do cérebro, o que faz sentido levando em consideração de que pessoas com TDAH tem dificuldades em realizar atividades que consideram chatas e repetitivas, bem como também pode explicar o motivo de haver comportamentos de risco, como o abuso de substâncias a fim de conseguir mais dopamina.
Comorbidades
A pessoa diagnosticada com este transtorno tem alta comorbidade com outros transtornos psiquiátricos cerca de mais de 50% dos casos, onde se destacam: O transtorno desafiante de oposição, mais conhecido como TOD, o transtorno de conduta ou TC, abuso de substâncias e ou álcool, transtornos de humor, como por exemplo, depressão, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade, transtornos de tiques e de aprendizado. Existem também comorbidades com transtorno de personalidade, por isso é necessário um acompanhamento com uma equipe multiprofissional na maioria dos casos.
É bem comum a pessoa com TDAH inciar o tratamento para TDAH e durante o processo começar a perceber outros sintomas que não são próprios deste transtorno, tendo conhecimento de que existem outros que precisam ser tratados também, o que aumenta consideravelmente a qualidade de vida dessa pessoa.
Considerações Finais
Se você leu este artigo e ficou com algumas pulgas atrás da orelha, é muito importante que busque profissionais qualificados para dar início a investigação, posso dizer por experiência própria de que o tratamento melhorou muito a minha vida, hoje entendo que muito do que eu vivi e vivo tem uma explicação e de que eu posso me aceitar da forma que eu sou, com isso comecei a aceitar outras pessoas e suas dificuldades de uma forma melhor, pois sei na pele como é passar pelo processo de diagnóstico e encontro do melhor tratamento para si.
Ainda estou no processo, entendo muito bem como é pedir paciência para alguém com TDAH, mas cada degrau que subimos vale muito a pena, caso precise de ajuda para se entender melhor, me chama!
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