Sempre que falo a respeito desse transtorno, muitas pessoas acreditam que estamos falando do transtorno bipolar, ou não fazem ideia de como esse transtorno de personalidade se apresenta. Percebo muito preconceito ligado a ele, onde colocam pessoas que sofrem do Transtorno de Personalidade Borderline como loucas, que não se podem confiar e que criam conflitos com facilidade, mas será que isso é uma verdade?

Neste artigo vamos falar sobre o que é o Transtorno de Personalidade Borderline, como diferenciar do Transtorno Bipolar, quais são os prejuízos para a vida de quem sofre com esse transtorno e como podemos auxiliar no tratamento de pessoas que conhecemos.

O que é o Transtorno de Personalidade Borderline?

A palavra Borderline vem do inglês, que significa “fronteiriço”, ou seja pessoa está sempre no limite, sentem tudo com mais intensidade, este transtorno faz parte da personalidade da pessoa, pode ter causa genética e ambiental. O Transtorno de Personalidade Borderline tem como sintomas uma grande instabilidade de humor, um padrão generalizado de instabilidade e hipersensibilidade nos relacionamentos interpessoais, impulsividade e instabilidade de autoimagem.

Como dito anteriormente, uma parte da causa do transtorno é genética, onde se há uma pessoa na família que possui o transtorno, a chance de o desenvolver é 5 vezes maior, outra parte que considero importante são os acontecimentos no desenvolvimento desta pessoa, como a perda de um dos pais ou a separação de seus cuidadores, abusos físicos ou sexuais na infância, dentre outros traumas relacionados ao relacionamento interpessoal.

Um dos traços que mais são notados em pessoas que possuem esse transtorno é o medo do abandono e quando sentem que seu medo pode se tornar real, entram em crises, tendo ideações ou tentativas de suicídio a fim de terem o cuidado que desejam.

Quando falamos a respeito de bordeline é comum associar o sentimento de raiva em muitos momentos do dia, isso pode acontecer pois pessoas com o transtorno sentem tudo de forma intensa, principalmente quando sentem que o outro não está mais se doando para o relacionamento ou está se desligando.

Quando sentem raiva esses pacientes tem muita dificuldade em se autorregular, se comportando de forma agressiva, irônica, projetando esses sentimentos em quem está próximo e após esses episódios tendem a se sentir mal com o que fizeram, fortalecendo a crença de que são pessoas ruins.

Um dos motivos para a dificuldade na autorregulação de sentimentos difíceis é uma alteração em algumas estruturas cerebrais, no hipocampo e na amígdala que é um pouco menor, o que causa uma maior ativação, levando a uma prevalência da raiva, tristeza e medo. Outra estrutura que pode se encontrar menor é o córtex pré-frontal, que é responsável pelo controle de impulsos. Há uma hiperatividade em outra estrutura cerebral chamada de eixo hipotálamo-hipófase-suprarrenal que é responsável pela produção de cortisol, ou seja, o paciente manifesta uma resposta maior ao estresse,

É comum que exista um sentimento de tudo ou nada, por exemplo, quando conhecem alguém novo e há interesse, é comum o comportamento de querer saber tudo a respeito dessa nova pessoa, procura fazer coisas a fim de agradar, mesmo que seja completamente avesso ao que gostava anteriormente, participa de atividades de interesse desta pessoa, justamente para passar mais tempo ao lado dela e sentir que a chance de ser abandonada seja menor, isso acontece pois há uma idealização do novo relacionamento. Quando as expectativas não são cumpridas ficam desiludidas, tratando essa pessoa com desprezo.

Outro comportamento comum é de que o paciente tende a alimentar relacionamentos que lhe são úteis, ou seja, se relacionam com pessoas que sentem que irão estar ao seu lado em todos os momentos que desejarem.

Por ter uma instabilidade em relação a autoimagem, mudam com frequência a forma com que se vestem, quais estilos de música escutam, valores, opiniões, amigos, trabalhos, acabo percebendo que isso pode mudar de acordo com o novo interesse amoroso ou de amizade desse paciente.

Outro sintoma comum ao transtorno de personalidade borderline é a automutilação, muitos acabam recorrendo a isso para lidar com sentimentos de raiva e tristeza, também por conta da impulsividade. A impulsividade pode levar essas pessoas a terem comportamentos de risco, como por exemplo, utilização de drogas, relações sexuais sem proteção, compulsão alimentar, vício em jogos e compras. É importante lembrar que esses comportamentos são de cunho autodestrutivos, mesmo que a finalidade não seja essa, geralmente esses comportamentos aparecem afim de conseguir cuidado e atenção de seus pares.

O sentimento de vazio é muito comum em pessoas que apresentam o transtorno borderline, juntando com a impulsividade e comportamentos de autodestruição é um combo muito perigoso.

Pode haver sintomas de pensamentos paranoicos, em momentos de grande estresse, onde pode acontecer de achar que estão tramando algo contra si ou que está em perigo real.

Por esses motivos a chance de pessoas com transtorno de personalidade borderline tentarem suicídio é de 40 vezes mais que pessoas que não tem este transtorno, por isso a necessidade do tratamento medicamentoso e psicoterápico.

Prejuízos

Como explicado no tópico anterior, os relacionamentos da pessoa que tem o transtorno de personalidade borderline são muito instáveis, com dificuldade em criar vínculos de confiança, sentimento de vazio e inutilidade, dificuldade de controlar a raiva, comportamentos de risco, tudo isso faz com que seja muito difícil criar relacionamentos de longo período de tempo, e que haja uma chance maior de se envolver em relacionamentos abusivos, visto que podem aguentar situações de abuso para evitar o sentimento de abandono.

Por terem um sentimento de autodestruição é comum que tenham comportamentos masoquistas, se relacionando com pessoas que querem o seu mal, por esse e outros motivos a tendencia a se divorciarem muitas vezes é alta.

Pessoas que sofrem do transtorno tem dificuldade em permanecer em empregos, cursos, por conta de se autossabotarem com frequência e também por conta de terem dificuldade em se autorregular em momentos de estresse.

Como já relatado acima, comportamentos de risco são muitos comuns, levando a comorbidades de compulsão alimentar, vício em jogos, compras, transtorno por abuso de drogas, risco de doenças sexualmente transmissíveis por ter sexo desprotegido, entre outros.

Diferenciando de outros transtornos

Por ser um transtorno de personalidade com instabilidade de humor intensa, é comum que seja confundido com a bipolaridade, porém no transtorno de personalidade borderline as mudanças de humor e de comportamento costumam acontecer dentro de horas, dependendo dos estressores, não duram dias como na bipolaridade, onde cada episódio de mania ou de depressão tendem a durar cerca de 15 dias ou mais.

Outro transtorno que pode se confundir com o borderline é o da personalidade histriônica onde o paciente tende a ter comportamentos expansivos e de chamar atenção para si a qualquer custo, com objetivo de manipulação, já o borderline costuma se sentir mal quando algum episódio acaba, é importante lembrar de que a pessoa com transtorno borderline acredita ser uma pessoa ruim.

O transtorno de personalidade narcisista também costuma ser confundido, mas novamente precisamos lembrar de que o borderline se sente uma pessoa má, se sente mal quando tem alguma reação ruim com o outro, coisa que não acontece com a pessoa que é narcisista.

Um ponto importante é de que pode haver comorbidade com outros transtornos, como por exemplo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, já que o borderline geralmente sofre traumas na infância.

Tratamento

O tratamento do transtorno de personalidade borderline se da através de psicoterapia e medicação, quando existe o tratamento multidisciplinar o paciente consegue ter uma vida mais equilibrada e saudável, sem tantos prejuízos.

A psicoterapia é a base do tratamento para este transtorno, quando se tem foco na Teoria Cognitivo Comportamental, ela irá auxiliar o paciente a identificar quais são as situações em que tem dificuldade em se autorregular, identificar quando emoções difíceis começam a aparecer, assim como a identificar quais pensamentos automáticos tem aparecido com mais frequência.

Outros pontos que podem ser trabalhados na psicoterapia é o fortalecimento da autoestima, aprendizado de habilidades sociais, tratamentos para comorbidades que podem vir a aparecer, auxílio na resolução de problemas, dentre outras dificuldades que o paciente venha a apresentar.

O tratamento medicamentoso é feito através de estabilizadores de humor, antipsicóticos, antidepressivos e também pode ser feita a suplementação de vitaminas, sendo analisado caso a caso.

Como os familiares podem auxiliar?

Como em todo transtorno mental não tratado adequadamente pode levar a desentendimentos na família, mas precisamos lembrar de que a família é um grande pilar no tratamento de qualquer transtorno, quando a família é presente e entende a respeito de como a pessoa se comporta a convivência se torna mais leve.

Sempre coloco a importância da família ter contato com os profissionais que são responsáveis pelo tratamento, para informar como está o andamento, se a pessoa está aderindo ao tratamento medicamentoso e também à psicoterapia, pois pessoas com transtorno de personalidade borderline tem dificuldade em aderir, muitas vezes acabam abandonando por conta de efeitos colaterais da medicação ou sintomas do transtorno em si.

O acolhimento sem julgamento em momentos de crise ajuda a minimizar os efeitos negativos e a autolesão, além do acolhimento é necessária atenção familiar nestes momentos para a medicação e se perceber que a crise está muito intensa procurar ajuda médica o quanto antes para ajustes.

Lembre-se de que a pessoa com borderline sofre sentindo tudo muito intensamente, hoje sabemos de que se trata de disfunção em partes do cérebro, bem com consequências de traumas, muito do que acontece nas crises não é algo consciente. Mas isso não quer dizer que a pessoa não seja responsável pelos seus atos na maioria do tempo!

Para que a família consiga se envolver e auxiliar a pessoa que sofre com borderline é necessário que a família também esteja em acompanhamento com psicólogo, para poder trabalhar seus problemas particulares a fim de não se sobrecarregar com os sintomas do familiar.

Ainda há muito a se aprender a respeito deste transtorno, muitos estudos a serem feitos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e dos familiares que convivem com o transtorno de personalidade borderline, como gosto de falar sempre, o conhecimento é a chave para tudo!

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Joana Ester Gonçalves Lins

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